segunda-feira, 10 de setembro de 2012



Possíveis causas da emigração de Antonio Voltolini e família:

A historiadora Maria Angélica Marochi, em seu livro: Os Europeus em São José dos Pinhais, pág. 19, foi muito feliz na utilização desta frase “Europa Expulsora”, pois como veremos a seguir, não foi um fato isolado que levou Antonio Voltolini, família e milhares de europeus a imigrar e sim uma sucessão de acontecimentos que culminaram com a vinda de mais de 28 milhões de europeus para as terras americanas.  A agricultura que representava o esteio econômico vivia uma enorme crise e, em decorrência, os camponeses sofriam toda a sorte de privações. A unificação da Itália, em 1861, propiciou agravamento das dificuldades pelas quais passavam às diversas repúblicas que compunham a Itália de então, dificuldades essas de ordem econômica, política, social e religiosa, tanto, nacionais, quanto internacionais.
 Cadorin (1992 p.15) “As modificações na política fundiária, instituídas por ocasião da unificação italiana em 1861, fez com que milhares de agricultores tivessem suas terras confiscadas pelo governo”. A Itália vivia atormentada por males terríveis, com terras esgotadas e improdutivas, com pragas que devastavam as culturas agrícolas, sobretudo a sericicultura ou cultura do bicho da seda, além das moléstias que grassavam, como a malária, a cólera, a pelagra, as doenças pulmonares dos mineiros e tantas outras. A Itália era um país pobre, doente, faminto e atrasado.
 Segundo Paterno (2005 p.28) “Não obstante, a agricultura ter ocupado 70% da população ativa, e a Itália ter chegado a possuir a mais vasta área de terra em plantações de cereais de toda a Europa, viu-se obrigada a comprar grandes quantidades de víveres, como: trigo, carne, açúcar e banha, dos Estados Unidos e da própria Rússia. Até os produtos básicos, como, milho, arroz e óleo começaram a escassear. É que, enquanto outros países se preocuparam a tempo em modernizar sua agricultura, a Itália continuava utilizando instrumentos agrícolas primitivos, como por exemplo; o arado em madeira e, o plantio e a própria colheita inteiramente manuais.” A falta de alternativas de trabalho e de pólos de atração na região, o esgotamento de alguns recursos minerais, o estabelecimento de cotas para os abates florestais, as modificações territoriais e dos transportes, acabaram por tirar da população as poucas fontes de renda que ainda restavam.
Nos meados do século XIX, mais propriamente no final da década de 1850 com o fim das revoluções burguesas, o continente europeu, principalmente a Europa Central, deixava de lado os resquícios do feudalismo, do espírito religioso fomentado pelo catolicismo para dar espaço ao sistema capitalista. O camponês, até então acostumado com um regime de vida que perdurou séculos, estava diante de um período de grandes transformações sociais e políticas. As mudanças foram tantas que os camponeses que viviam em pequenas comunidades e dependiam da migração sazonal, em épocas de inverno, para obter o sustento da família não conseguiam mais este tipo de trabalho.
Os reflexos destas mudanças foram ainda maiores. A revolução industrial trouxe novos medicamentos e vacinas que diminuíram a mortalidade infantil, aumentando consideravelmente a população em toda a Europa. Os camponeses já não conseguiam mais competir com os grandes latifundiários e sobreviver com as altas taxas de impostos.
 Em 1874 o Imperador Dom Pedro II assinara um contrato com Caetano Pinto, visando transferir emigrantes europeus para o Brasil, porque temia pela sorte do sul do Brasil, despovoado e, por isso mesmo, constituindo-se em presa fácil à cobiça dos países limítrofes. Os temores de Dom Pedro II se prendiam às guerras travadas com a Argentina e o Uruguai em 1849 e, contra o Uruguai e o Paraguai em 1865. Suas preocupações portanto, fundamentavam-se em observações muito recentes. Povoar o sul do país era uma medida política a ser tomada com urgência. Foi nesse clima propício à emigração que apareceu a propaganda desencadeada pela empresa de Joaquim Caetano Pinto Júnior, tecendo loas à terra prometida, o Brasil, e incentivando insistentemente, os camponeses a emigrarem.
 Roselys Izabel Correa Santos (1999, 2ª edição) analisa com detalhes a influência da imprensa no processo emigratório. É dela a afirmação: “diante, portanto, de tão bruta conjuntura, que não lhes poupava o direito a subsistência, qualquer aceno a estes segmentos da população, que lhes projetasse um mundo pouco menos cruel, era representação de um paraíso e, porque não, o mítico Paese di Cuccagna”. (País das Maravilhas).  Citando Franzina, Roselys (1999 p.114) “Todos os autores italianos que tratam do tema emigração são unânimes em colocar a miséria do campo como a condição precípua para o fenômeno, o que é óbvio. Como expõe Emilio Franzina: “De fato, a expressão mais freqüente, com que se designa, a partir dos anos oitenta do século XIX, a causa causorum da emigração dos campos em uma literatura interminável, coincide, ao menos no Vêneto, por mim estudado, com uma só palavra, chata e banal, mas dotada de uma carga semântica até hoje explicitada e indicativa: miséria.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário