segunda-feira, 10 de setembro de 2012


                                 A decisão de emigrar

Antonio Voltolini sabendo que a expectativa de vida na época era menor que 50 anos, e que ele estava próximo de completar 60 anos de idade, ela com 57 surge a pergunta: O que convenceu este casal de camponeses e toda a família a abandonarem parentes e amigos e partirem para uma terra distante, que eles ainda não conheciam, e de onde certamente não retornariam? Quando a família decidiu que a emigração era naquele momento a solução mais viável, diante do quadro em que se encontravam, o casal Antonio Voltolini e Margherita Marchi  tinham nove filhos e oito netos: Seis filhos já eram casados; Anna casada com Giusepe Battisti tinha quatro filhos; Maria Maddalena casada com Michele Petris tinha dois filhos e estava grávida; Patrizio casado com Catherina Paolati tinha uma filha e a esposa estava grávida novamente; Carlos casado com Maria Celeste Cadore tinha um filho; Próspero estava noivo de Thereza Cadore; Luigi era noivo de Margherita Moratelli; Giudita era noiva de Adamo Conci; Giovanni e Giovanna eram solteiros.
 A revolução econômica que se processava em toda a Itália, trouxe em seu bojo expressivas conseqüências sociais, principalmente, para a população agrícola do norte. Na Provincia de Trento, Lombardia e Vêneto, onde a pequena propriedade predominava, não havia mais condições de proporcionar sustento, pela decrescente produtividade e pelos crescentes tributos que as onerava. O trabalho meeiro com os grandes latifúndios era opressivo e o salário por eventuais trabalhos, extremamente baixo. Dessa forma o ambiente tornava-se cada vez mais hostil à sobrevivência, pobreza extrema, fome, pouco trabalho, além do serviço militar que ceifava os filhos adultos por três anos podendo chegar a sete. Complementando o quadro de desesperança dos camponeses, surge a influência dominadora estrangeira, acenando a esses desafortunados italianos um meio eficaz para garantir-lhes subsistência - o abandono da pátria! É, justamente, neste angustiante contexto que os filhos de Antonio Voltolini e Margherita Marchi passaram a delinear e avaliar possibilidade de por em prática um novo projeto de vida - emigrar!A maioria adulta, alguns já casados, sadios, no vigor da idade e desejosos de progredir, a emigração se enquadrava perfeitamente ao espírito inquieto de quem, como eles, almejavam vencer na vida. Resolveram levar ao conhecimento de Antonio, a idéia que solucionaria os problemas que enfrentavam – emigrar. Antonio viu com bons olhos a sugestão, pois em toda a sua vida, e já com a idade avançada para a época, pois já contabilizava 59 anos e alguns meses, nada havia conseguido, mas, alertava, ser de toda conveniência, conseguir um maior número de adeptos, visando facilitar a convivência na nova pátria. Assim, os já casados; Anna, Maria Maddalena, Jacomo Patrizio, Carlo Antonio, e os noivos; Luigi Antonio, Próspero e Giudita, levaram o projeto ao conhecimento dos pais de suas amadas (os). Debateram o assunto até a exaustão e, após muita conversa, acabaram tomando a decisão. Juntos emigrariam. A escolha recaiu sobre o Brasil, tendo em vista que a propaganda desencadeada no norte da Itália apontava-o como um país maravilhoso para se viver. “A propaganda feita pelos agentes ou pelas companhias de imigração apresentava a América como a “terra prometida” aos camponeses. A quantidade de terras disponíveis, as facilidades oferecidas como a passagem gratuita, ajuda de custo nos primeiros 10 dias, casa e sementes, incentivaram muitos imigrantes a rumar para o Brasil”.
A partir daí e, com a concordância de todos, deram andamento às tratativas para efetivação do projeto emigratório. O primeiro passo foi entrar em contato com a Organização Caetano Pinto, aquela mesma da propaganda que incentivava os camponeses a emigrarem.
Procurou-se saber detalhes quanto à documentação necessária, as condições de embarque, a época mais recomendável para a viagem e que bagagem podia ser levada. Eram informações importantes para o novo projeto de vida. O segundo passo foi realizar o casamento de Próspero e Thereza Cadore, pois já estavam noivos há algum tempo e casados era mais fácil
adquirir terras na nova Pátria. A cerimônia deu-se em Borgo Valsugana em 23 de dezembro de 1875, justamente alguns dias antes do embarque.
Longas conversas noturnas tornaram-se constantes. Sonhos arquitetados no silêncio da noite e no aconchego materializavam-se em ações no dia seguinte. Antecedendo a viagem, quantas idéias povoaram a mente destes nossos heróis destemidos!...
Quantas dúvidas e indagações!... Por certo, muitas ficaram sem resposta. Mas, apesar de tudo, era preciso ir em frente. Havia muito a Resolver!... E, os preparativos, como ordená-los? Maddona mia! ... E, no vai-vem dos afazeres, não faltaram lágrimas, umas pelo abandono da
pátria, outras por medo do desconhecido. Cada qual cuidou com muito carinho e zelo, selecionando tudo o que desejava e achava necessário levar à nova morada, onde não poderiam faltar os quadros da Santa Ceia e a Sagrada Família a serem colocadas na parede da sala, as imagens dos santos para o oratório, as estampas do Coração de Jesus e do Coração de Maria, e o livro de orações, sementes para o plantio, entre outros. Tudo é colocado em um baú de viagem, malas ou sacos junto com as roupas de vestir, os cobertores e as toalhas de banho e de mesa. Nada deveria deixar de ser incluído na bagagem. Os bens que possivelmente haviam de ter; animais, carroças, entre outros, deveriam ser vendidos, pois precisariam custear o deslocamento de Borgo Valsugana até o Porto de embarque, e por outro lado havia necessidade de ter-se alguma reserva financeira para a viagem e iniciar a vida nova. Com os corações apertados e as lágrimas a rolarem pelas faces por abandonarem sua querida Comune, parentes e amigos que ficavam, iniciaram a aventura indo ao encontro de um mundo melhor que lhes proporcionasse condições de criar os muitos filhos que esperavam trazer ao mundo.




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